Marés cheias
De sal e riqueza

Quando chove no alto das montanhas, as águas escorrem encostas abaixo, num longo caminho até ao mar, arrastando consigo a riqueza mineral que contém toda a riqueza do mundo. 

Depois, dando lugar ao movimento das marés, a água do mar invade os estuários, sendo conduzida por braços de ria e esteiros até aos canais das comportas da salina, que se escancara nas marés vivas das luas cheia e nova.

Uma água salgada que se evapora no estio do verão, passando a salmoura de tão concentrada que está deixando-nos o sal, a parte mais pesada dessa água, para que a mais leve se evapore perpetuando o círculo da vida até ao próximo encontro na salina.

E nas salinas talhadas no barro virgem de Castro Marim, num espaço inóspito que parece ter sido abandonado por Deus, o Homem fica entregue a si próprio, conquistando a terra para fazer jardins brancos no verão, enquanto no inverno se entrega a outras tarefas.

Um ciclo que se repete desde sempre e que terá tido origem há 2 milhões de anos numa evolução complexa que comporta fases de transgressão e regressão marinhas, formação de montanhas, erosão, vulcanismo e atividade sísmica.

O lugar do sal

As salinas foram construídas no sapal a braço de homem, que primeiro construiu muros de terra para as proteger das marés, e no barro virgem criou um conjunto de tanques para evaporar a água do mar. 

A água é conduzida através de canais até à comporta, ficando depois guardada nos viveiros, onde começa a evaporar. Depois, o que está em suspensão assenta no fundo de modo natural, até chegar por gravidade aos cristalizadores onde, devido à elevada salmoura, os minerais do mar precipitam no que é o sal de cozinha.

Todos os processos são naturais e a intervenção humana reduz-se a dar forma à salina e a recolher o sal. O sal seca ao sol e é depois embalado sem adição de quaisquer aditivos.