Poucos são os produtos que têm uma história tão antiga e um papel tão importante na história do mundo. O sal é um deles e, embora hoje seja um produto quase insignificante, tempos houve em que era sinónimo de riqueza e poder.
Rico em sais minerais sem os quais não poderíamos viver, como o cloreto de sódio, a procura pelo sal terá começado no momento em que o Homem começou a desenvolver a agricultura e a pecuária, há cerca de 10 mil anos.
Ao domesticar e circunscrever os animais a espaços limitados, apercebeu-se de que estes procuravam para consumir fontes de sal. A observação desta procura instintiva levou à descoberta da importância deste produto para a sobrevivência das espécies.
Curioso por natureza, não foi preciso muito tempo para que o Homem também se apercebesse do efeito do sal sobre os elementos, nomeadamente na preservação dos alimentos, cuja validade de consumo aumentava substancialmente.
Tal constatação foi absolutamente disruptiva para a época permitindo que se pudesse armazenar alimentos, fazendo frente a tempos mais difíceis e, com isso, ganhar poder para negociar e, até subjugar, quem não tinha este produto.
Tornou-se assim, ao longo dos tempos, um produto extremamente valioso, passando a ser moeda de troca ou alvo de elevados impostos em diversas nações.
De tal forma que, sem os mesmos, hoje poderiam não existir, por exemplo, a Muralha da China ou a cidade de Veneza como a conhecemos atualmente, tão bela, imponente e artística - o que só foi possível por ter sido uma importante cidade portuária durante a Idade Média.
A importância do sal ficou ainda registada na história durante o Império Romano, quando os soldados eram pagos com rações - as Salarium Argentum - que deram origem à palavra salário...
O poder e valor atribuídos ao sal foram de tal ordem que este se tornou num símbolo de diversas religiões e o elemento de muitas superstições. E, se para alguns era símbolo de fertilidade, pureza ou saúde, para outros é um sinal de mau agouro.
Absurdo ou não, a verdade é que ainda hoje há quem atire sal para trás das costas como forma de afastar o azar e o mau-olhado, ou quem não passe um saleiro a alguém sem antes o pousar na mesa.
Como qualquer bem raro e valioso, ao longo dos séculos foi também a causa de muitas guerras e conflitos entre povos e nações.
Esteve presente na Guerra dos Cem Anos, no luxo da Corte de Versalhes e na Revolução Francesa, no domínio de Portugal sobre o Brasil e, até, na Independência da Índia em relação a Inglaterra, em 1948, entre muitos outros.
O seu constante valor deveu-se, essencialmente, à versatilidade da sua utilização e quantidade de benefícios proporcionados: tanto era um produto fundamental no processo de mumificação, como um desinfetante e curativo para feridas; tanto se tratava de um importantíssimo tempero da alimentação, como de um inestimável conservante de ingredientes.
E, embora de forma menos direta, sem sal também não existiriam o cloro e soda cáustica, fundamentais a muitas indústrias atuais; produtos sem os quais o acesso a água potável, o papel, a diversidade tintas e vernizes, plásticos, medicamentos, fertilizantes, dinamite, entre muitos outros, seria difícil, para não dizer impossível.
A importância do sal manteve-se inalterável até começarem a surgir novas técnicas e/ou equipamentos de conservação como o vácuo, a pasteurização ou o frigorífico. E, depois, com a globalização dos mercados, generalizou-se o consumo do sal, dando lugar a uma nova era.
Hoje, com o aumento de doenças relacionadas em parte com o consumo de sal, e com as recomendações e advertências da Organização Mundial de Saúde e dos governos de todo o mundo para a necessidade de redução do consumo do sal, as pessoas estão mais conscientes dos riscos que o seu consumo elevado provoca à saúde.
Contudo, e apesar de tudo isto, continua a ser reconhecido como o segredo imprescindível que torna qualquer prato mais especial e delicioso. Afinal, quem gosta de um pãozinho sem sal?...