Se há uma coisa fundamental quando se fala de sal é o tempo. E na Reserva Natural do Sapal de Castro Marim, onde a flor de sal é colhida de forma artesanal, o tempo passa calmamente, com tempo para que a natureza faça o seu trabalho sem pressas, e para que os gestos de limpar, reparar, preparar, recolher sejam feitos no tempo certo, e com o tempo para transformar as tarefas de sempre, em importantes missões: as de recolher e preservar os delicados cristais de flor de sal.
Uma sensibilidade e um saber-fazer que se aperfeiçoaram com o tempo, e quase ininterruptamente, desde que os fenícios e romanos levaram as águas a circular entre o esteiro e o tejo, os viveiros, as caldeiras e os talhos; e a aprendizagem de saber viver ao compasso dos ciclos das marés-vazas e praias-mar, com a calma para esperar pelas brisas do levante, pela evaporação, pelo sol a poisar nas marinhas, até perceber que chegou o momento.
E o momento chega sempre, acontecendo quando o calor do sol, o vento e as águas se encontram em total harmonia, permitindo que os homens das marinhas façam com os seus artesanais engenhos a recolha dos frágeis cristais, brilhantes e quebradiços, que o sol forma à superfície, numa fina película de milagre.
Depois, como acontece com qualquer tesouro, é preciso guardá-lo bem. Armazená-lo e embalá-lo manualmente, individualmente, vagarosamente, ora em saleiros de cortiça, ora em embalagens de cartão, para que se mantenha abrigado da luz, evitando que os aromas oxidem, e seco e íntegro, com todas as suas características conservadas, pronto para ser partilhado com essas pessoas especiais que adoram a vida e os bons momentos.